Certo dia, quando me encontrava confortavelmente acomodado em minha poltrona, frente à janela, avistei quase que sem querer dois olhos grandes e vermelhos a me fitar. Encarei-os como que por instinto. Meus olhos arregalavam cada vez mais, e meus pelos do corpo se levantavam. Sentia o congelar da espinha me aterrorizar.
Inicialmente, preocupei-me em saber o que eram aqueles dois olhos; depois, preocupei-me em saber porquê me fitavam sem cessar; e somente depois disso preocupei-me com minha segurança.
Levantei da poltrona com as pernas bambas, apoiei-me com os cotovelos sobre o batente da janela e parei. Ali fiquei por um tempo. Pensava sobre o que poderia ser, mas, de certa forma, havia me esquecido da presença dos olhos. Foi quando andei de um lado ao outro, e voltei a me assustar. Eles continuavam a me encarar. Seguiam-me incansavelmente, e eu, indefeso, abaixei a cabeça como um sinal de submissão. Foi meu maior erro.
As luzes se apagaram e o espetáculo começou. Pulou sobre mim algo que eu desconhecia. Senti rasgar-me o peito e tirar o que havia de ficar lá dentro. Era meu coração.
Então sangrei. Sangrei até que me sentisse banhado pelo meu próprio sangue. Senti tudo o que tinha ir-se embora. Tudo, menos a dor, que era a única coisa que me mantinha ainda vivo.
6 comentários:
meio macabro, mas eu gostei :)
a dor é o que me mantém vivo.
Macabro, não. Figurado.
Muito bom, rapaz, tá melhorando!
Muito bom, em. Gostei mesmo do seu texto.
Um abraço.
Olhando Pra Grama - Crônicas de um ansioso
Tá, você deve ouvir muito 'muito bem', ou ' parabéns'.
Então ... como foi o seu 1º de maio?
;)
Que bom que gostou do que escrevo
também gostei do que você diz em seus textos..
agradeço o elogio e tenha por suas palavras as minhas!
beijos
Estes olhos vermelhos... Será Deus? O diabo? A consciência? Ou uma simples besta mítica a seguir aqueles que buscam elevar-se acima da mediocridade?
Enfim: muito boa a metáfora sobre a dor, a nossa pior desgraça, mas aquilo que nos mantém vivos. Estamos vivos por e pela dor, e só por ela também podemos nos salvar - da maneira que for possível.
Os carrascos não importam.
(E gostei de detalhe de que, só depois que o indivíduo baixou a cabeça é que ele perdeu o que tinha. Jamais baixar a cabeça, essa é uma possível aiatude salvadora.)
Um novato abraço.
Postar um comentário