terça-feira, 29 de abril de 2008

Conto para a eternidade - minha eternidade

Certo dia, quando me encontrava confortavelmente acomodado em minha poltrona, frente à janela, avistei quase que sem querer dois olhos grandes e vermelhos a me fitar. Encarei-os como que por instinto. Meus olhos arregalavam cada vez mais, e meus pelos do corpo se levantavam. Sentia o congelar da espinha me aterrorizar.

Inicialmente, preocupei-me em saber o que eram aqueles dois olhos; depois, preocupei-me em saber porquê me fitavam sem cessar; e somente depois disso preocupei-me com minha segurança.

Levantei da poltrona com as pernas bambas, apoiei-me com os cotovelos sobre o batente da janela e parei. Ali fiquei por um tempo. Pensava sobre o que poderia ser, mas, de certa forma, havia me esquecido da presença dos olhos. Foi quando andei de um lado ao outro, e voltei a me assustar. Eles continuavam a me encarar. Seguiam-me incansavelmente, e eu, indefeso, abaixei a cabeça como um sinal de submissão. Foi meu maior erro.

As luzes se apagaram e o espetáculo começou. Pulou sobre mim algo que eu desconhecia. Senti rasgar-me o peito e tirar o que havia de ficar lá dentro. Era meu coração.

Então sangrei. Sangrei até que me sentisse banhado pelo meu próprio sangue. Senti tudo o que tinha ir-se embora. Tudo, menos a dor, que era a única coisa que me mantinha ainda vivo.

6 comentários:

404 Not Found Again disse...

meio macabro, mas eu gostei :)

a dor é o que me mantém vivo.

Paulo César di Linharez disse...

Macabro, não. Figurado.

Muito bom, rapaz, tá melhorando!

Igor Lessa disse...

Muito bom, em. Gostei mesmo do seu texto.

Um abraço.


Olhando Pra Grama - Crônicas de um ansioso

Polyana Muniz disse...

Tá, você deve ouvir muito 'muito bem', ou ' parabéns'.
Então ... como foi o seu 1º de maio?

;)

A minha realidade disse...

Que bom que gostou do que escrevo
também gostei do que você diz em seus textos..
agradeço o elogio e tenha por suas palavras as minhas!
beijos

gato de Schrödinger disse...

Estes olhos vermelhos... Será Deus? O diabo? A consciência? Ou uma simples besta mítica a seguir aqueles que buscam elevar-se acima da mediocridade?

Enfim: muito boa a metáfora sobre a dor, a nossa pior desgraça, mas aquilo que nos mantém vivos. Estamos vivos por e pela dor, e só por ela também podemos nos salvar - da maneira que for possível.

Os carrascos não importam.

(E gostei de detalhe de que, só depois que o indivíduo baixou a cabeça é que ele perdeu o que tinha. Jamais baixar a cabeça, essa é uma possível aiatude salvadora.)

Um novato abraço.