sexta-feira, 23 de maio de 2008

Desesperança

Sóbria é a noite e embriagados estamos nós.

Entendemos tudo errado e confundimos o inimigo.

Guerras são travadas por nada e o perdão é negado por tudo.

Por todos.

Essa é uma terra desleal e esses são dias de verdades.

Abrir os olhos não significa enxergar.

Apenas um passo foi dado... Um passo já foi dado!

Mas nosso caminho é muito longo para ser percorrido com somente um passo...

***

O menor espaço entre dois pontos é uma reta;

O menor espaço entre o inicio e o fim de um caminho é um passo;

O menor espaço entre o erro e o acerto é a tentativa;

O menor espaço entre o bem e o mal

[é o homem].

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Eu posso fazer tudo do meu jeito?

Eu tento

Mas não consigo entender

Por que ainda me chamam de super-homem?

Eu já não dei mostras suficientes

De quanto sou fraqueza e orgulho

Na mais pura condição humana?

Já não me humilhei o bastante

Sendo homem e nada mais

Agindo como alguém normal

Contradizendo as expectativas

E decepcionando meus admiradores?

Quantas vezes mais terei eu

Que trair a mim mesmo

Para satisfazer quem sequer realmente se importa

Mas finge o fazer

Por ironia cruel e miserável

E amor incoerente e mentiroso?

A mentira dos outros torna-se verdade para mim

Os outros são os olhos que me observam

Frente ao espelho

Nu

Desprotegido

Envergonhado

Eu sou o ser a ser observado

Sou quem deve ser sempre julgado

Por uma justiça além do homem

Pois sou somente isso

Um homem e nada mais

E as injustiças me atiçam

E os erros me entristecem

Será então

Que eu posso contar

Com o mundo ao meu redor?

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Em defesa de Cláudio Andrade

Muitos proclamavam Cláudio Andrade como “O mutante dos tempos”. Por muitos anos eu não soube ao certo o verdadeiro sentido do nome que o atribuíram, mas de algum modo sabia, instintivamente, exatamente aquilo que devia saber.

Pouco tempo atrás vim descobrir que Cláudio Andrade não tinha nada de mutante, era apenas um ser inteligente. O que chamaram de mutação era, na verdade, a forma como enganava a morte aquele velho senhor.

Não se pode negar que ele estava sempre mudando, é evidente a transformação de seu ser em outros, quem sabe até fosse somente uma transmutação para corpos mais jovens. Mas sim, o importante agora é exaltar Cláudio Andrade, que por tanto tempo foi visto com olhos recriminadores por toda a sociedade da vila de Santo Antônio.

Ele se transformou em diversas criaturas, através dos séculos. Com isso enganou a morte, que sempre quando ia buscar seu corpo, já o encontrava sem vida ou habitado por outro. Era mesmo um senhor muito esperto. Mas eu sempre me perguntava como ele fazia tudo o que fazia.

A resposta, um sábio senhor idoso, morador da vila desde os seus primórdios e de nome parecido – Carlos Andrade era ele –, me deu:

É simples – Disse ele - Cláudio Andrade aprendia com as experiências antes mesmo de as viver. Pessoas como ele nascem com intervalos de milênios. Era um método de certo modo estranho e diferente, mas não por isso menos correto ou pior que os outros, muito pelo contrário, era, senão o melhor, um dos melhores já feitos por um homem em terra ou em mar. Enquanto as outras pessoas esperavam a morte chegar, Cláudio Andrade a procurava para fugir dela.

Ao escutar tudo isso, gritei:

- Isso sim é desejo de viver!

E minha ingenuidade chegou a embaraçar o senhor, fazendo-o encerrar com violência a conversa, mesmo que, por minha parte, ela já estivesse encerrada.