Muitos proclamavam Cláudio Andrade como “O mutante dos tempos”. Por muitos anos eu não soube ao certo o verdadeiro sentido do nome que o atribuíram, mas de algum modo sabia, instintivamente, exatamente aquilo que devia saber.
Pouco tempo atrás vim descobrir que Cláudio Andrade não tinha nada de mutante, era apenas um ser inteligente. O que chamaram de mutação era, na verdade, a forma como enganava a morte aquele velho senhor.
Não se pode negar que ele estava sempre mudando, é evidente a transformação de seu ser em outros, quem sabe até fosse somente uma transmutação para corpos mais jovens. Mas sim, o importante agora é exaltar Cláudio Andrade, que por tanto tempo foi visto com olhos recriminadores por toda a sociedade da vila de Santo Antônio.
Ele se transformou em diversas criaturas, através dos séculos. Com isso enganou a morte, que sempre quando ia buscar seu corpo, já o encontrava sem vida ou habitado por outro. Era mesmo um senhor muito esperto. Mas eu sempre me perguntava como ele fazia tudo o que fazia.
A resposta, um sábio senhor idoso, morador da vila desde os seus primórdios e de nome parecido – Carlos Andrade era ele –, me deu:
É simples – Disse ele - Cláudio Andrade aprendia com as experiências antes mesmo de as viver. Pessoas como ele nascem com intervalos de milênios. Era um método de certo modo estranho e diferente, mas não por isso menos correto ou pior que os outros, muito pelo contrário, era, senão o melhor, um dos melhores já feitos por um homem em terra ou em mar. Enquanto as outras pessoas esperavam a morte chegar, Cláudio Andrade a procurava para fugir dela.
Ao escutar tudo isso, gritei:
- Isso sim é desejo de viver!
E minha ingenuidade chegou a embaraçar o senhor, fazendo-o encerrar com violência a conversa, mesmo que, por minha parte, ela já estivesse encerrada.