Eu tento
Mas não consigo entender
Por que ainda me chamam de super-homem?
Eu já não dei mostras suficientes
De quanto sou fraqueza e orgulho
Na mais pura condição humana?
Já não me humilhei o bastante
Sendo homem e nada mais
Agindo como alguém normal
Contradizendo as expectativas
E decepcionando meus admiradores?
Quantas vezes mais terei eu
Que trair a mim mesmo
Para satisfazer quem sequer realmente se importa
Mas finge o fazer
Por ironia cruel e miserável
E amor incoerente e mentiroso?
A mentira dos outros torna-se verdade para mim
Os outros são os olhos que me observam
Frente ao espelho
Nu
Desprotegido
Envergonhado
Eu sou o ser a ser observado
Sou quem deve ser sempre julgado
Por uma justiça além do homem
Pois sou somente isso
Um homem e nada mais
E as injustiças me atiçam
E os erros me entristecem
Será então
Que eu posso contar
Com o mundo ao meu redor?
2 comentários:
com o mundo não, mas comigo pode :)
Boas, dúvidas, caro compañero. Se todos tivessem reflexões como estas, talvez as respostas para estas questões pudessem ser menos dificilmente encontradas, e talvez mesmo tivessem o poder de derrubar as muralhas que criamos em torno de nós mesmos.
É possível, inferindo pela sua lírica, que você já tenha lido Fernando Pessoa. Se não, recomendo. Há um de seus pseudônimos - Álvaro de Campos - que pauta suas poesias investigando temas muito relacionados ao seu. Comece por "Poema em linha reta", um marco na vida deste inexorável Gato.
Um abraço.
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