quarta-feira, 14 de maio de 2008

Eu posso fazer tudo do meu jeito?

Eu tento

Mas não consigo entender

Por que ainda me chamam de super-homem?

Eu já não dei mostras suficientes

De quanto sou fraqueza e orgulho

Na mais pura condição humana?

Já não me humilhei o bastante

Sendo homem e nada mais

Agindo como alguém normal

Contradizendo as expectativas

E decepcionando meus admiradores?

Quantas vezes mais terei eu

Que trair a mim mesmo

Para satisfazer quem sequer realmente se importa

Mas finge o fazer

Por ironia cruel e miserável

E amor incoerente e mentiroso?

A mentira dos outros torna-se verdade para mim

Os outros são os olhos que me observam

Frente ao espelho

Nu

Desprotegido

Envergonhado

Eu sou o ser a ser observado

Sou quem deve ser sempre julgado

Por uma justiça além do homem

Pois sou somente isso

Um homem e nada mais

E as injustiças me atiçam

E os erros me entristecem

Será então

Que eu posso contar

Com o mundo ao meu redor?

2 comentários:

404 Not Found Again disse...

com o mundo não, mas comigo pode :)

gato de Schrödinger disse...

Boas, dúvidas, caro compañero. Se todos tivessem reflexões como estas, talvez as respostas para estas questões pudessem ser menos dificilmente encontradas, e talvez mesmo tivessem o poder de derrubar as muralhas que criamos em torno de nós mesmos.

É possível, inferindo pela sua lírica, que você já tenha lido Fernando Pessoa. Se não, recomendo. Há um de seus pseudônimos - Álvaro de Campos - que pauta suas poesias investigando temas muito relacionados ao seu. Comece por "Poema em linha reta", um marco na vida deste inexorável Gato.

Um abraço.