quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Carta a Guilherme

Guilherme,

Escrevo a ti para pedir ajuda. Sabes que sempre fui a favor da liberdade dos homens, mas hoje me vejo condenado e preso a um regime draconiano. Não consegui pensar em pessoa melhor para me ajudar a sair deste buraco. Não peço que viajes até aqui, pois sei do teu estado atual de saúde e jamais quis que tivesse uma enfermidade mais grave, rogo-lhe apenas por instruções de procedimento para que eu possa rapidamente me livrar dessa chaga da humanidade que é a tirania.

Mudando de "pau pra cacete" (como costumávamos dizer), o que tens no peito que te faz sentir tantas dores? Tu, que sempre fora tão forte e resistente agora está doente, jamais imaginei viver tanto quanto tu, e muito menos me ver são e saudável enquanto tu estás enfermo. Queria te desejar melhoras, meu grande amigo. Confesso-te que sinto saudades, e muitas. Lembro da época em que estudávamos juntos, antes de conheceres Mirela. Quando ficávamos às luzes dos postes antigos da cidade, sentados na calçada conversando e tomando um espartilho. Aquelas conversas jamais voltarão...

Aproveitando o momento, te direi como anda todo o pessoal por aqui: meu pai anda muito doente, mas se recusa a parar de trabalhar. Já tivemos várias brigas por conta disso, o melhor pra ele, hoje, seria o descanso; Meu irmão anda estudando algumas obras de Max Ernst e Salvador Dali, pretende ser pintor e tem muitas influências surrealistas; Quanto a minha mãe, só tenho a lamentar. Tudo isso que vem acontecendo a afetou em demasia. Foi tomada inicialmente por ataques esporádicos de loucura, o que se tornou cada vez mais constante e hoje ela está completamente dominada pela insanidade; Tu sabes como eu estou, apesar disso tudo de que te informei me encontro sempre bem, ou como ironizava Voltaire, “o melhor possível”.

Agradeço-te por tudo, meu grande amigo. Sabes que ainda te considero um irmão que da barriga de minha mãe não saiu. Assim que acabar com essa ditadura terrível que assola minha nação, irei ao teu encontro para tomar alguns copos de leite (já que não podes mais beber nossos antigos drinques) e descansar como quem não tivesse trabalho a fazer. Antes de morrermos quero ainda arranjar muitas histórias nossas para aos céus ou ao inferno levar comigo.

A tudo isso acrescento aquilo que sempre dizíamos nos momentos de embriaguez, e que certamente diríamos se tivéssemos outra oportunidade:

“Il écrase diffame!”

Um comentário:

Anônimo disse...

Um dos seus melhores. Na realidade, eu comecei acreditando, o que é bem importante, sabe, em um texto. Eu acho que você também começou acreditando. O que é mais importante ainda.
Diabo, você é irritantemente bom.
Te amo, sabia garoto?