quinta-feira, 8 de maio de 2008

Em defesa de Cláudio Andrade

Muitos proclamavam Cláudio Andrade como “O mutante dos tempos”. Por muitos anos eu não soube ao certo o verdadeiro sentido do nome que o atribuíram, mas de algum modo sabia, instintivamente, exatamente aquilo que devia saber.

Pouco tempo atrás vim descobrir que Cláudio Andrade não tinha nada de mutante, era apenas um ser inteligente. O que chamaram de mutação era, na verdade, a forma como enganava a morte aquele velho senhor.

Não se pode negar que ele estava sempre mudando, é evidente a transformação de seu ser em outros, quem sabe até fosse somente uma transmutação para corpos mais jovens. Mas sim, o importante agora é exaltar Cláudio Andrade, que por tanto tempo foi visto com olhos recriminadores por toda a sociedade da vila de Santo Antônio.

Ele se transformou em diversas criaturas, através dos séculos. Com isso enganou a morte, que sempre quando ia buscar seu corpo, já o encontrava sem vida ou habitado por outro. Era mesmo um senhor muito esperto. Mas eu sempre me perguntava como ele fazia tudo o que fazia.

A resposta, um sábio senhor idoso, morador da vila desde os seus primórdios e de nome parecido – Carlos Andrade era ele –, me deu:

É simples – Disse ele - Cláudio Andrade aprendia com as experiências antes mesmo de as viver. Pessoas como ele nascem com intervalos de milênios. Era um método de certo modo estranho e diferente, mas não por isso menos correto ou pior que os outros, muito pelo contrário, era, senão o melhor, um dos melhores já feitos por um homem em terra ou em mar. Enquanto as outras pessoas esperavam a morte chegar, Cláudio Andrade a procurava para fugir dela.

Ao escutar tudo isso, gritei:

- Isso sim é desejo de viver!

E minha ingenuidade chegou a embaraçar o senhor, fazendo-o encerrar com violência a conversa, mesmo que, por minha parte, ela já estivesse encerrada.

Um comentário:

gato de Schrödinger disse...

Às vezes, fico embasbacado com a possibilidade única oferecida pela internet e pelos blogs de permitir que tantos escritos possam ser publicados por tantos autores distintos, cada qual com suas obsessões, influências e demais idiossincrasias. Claro, como tudo que é muito democrático, dá a mesma oportunidade para pessoas, digamos assim, extremamente ignorantes. Em contrapartida, permite que eu, pobre felino imaterial, possa ter ao meu dispôr tanta criatividade literária.

É óbvio que você, eu e nossos amigos temos limitações. Somos jovens, com um longo caminho de aprendizado pela frente, como loucos diamantes sendo lapidados pelo Tempo. Mas, ainda assim, alguns de nós já tem em mãos (e mentes) um quê daquele talento almejado por todos aqueles que tem na escrita uma companheira para a eternidade.

Excelente conto. "Enquanto as outras pessoas esperavam a morte chegar, Carlos Andrade a procurava para fugir dela." Realmente, isso sim é desejo de viver.