domingo, 16 de dezembro de 2007

Carta à Gabriela

Gabriela,

Não só não entendo o porquê do teu pedido de demissão como não posso te realizar tal desejo. Imagina como seria minha vida sem ti. Tu sabes que mal sei pegar no volante de um carro, quanto mais guiá-lo como tu guias a tanto tempo. Sabes que sozinho não conseguirei seguir e que sou um verme solitário que precisa dos teus cuidados e das tuas mãos santas na direção do meu veículo sempre, para que nada de mau me aconteça. Sabes também que pra mim não és só quem guia meu carro para o melhor lugar em que possamos estar, és muito mais que isso. És quem guia também a minha vida para o melhor lugar onde ela possa estar.

Agora, pensa: se eu não te tivesse ao meu lado todo esse tempo, o que seria de mim? Certamente já teria caído em algum abismo das estradas da vida; certamente eu já teria me perdido e agora não estaria escrevendo esta carta, estaria apenas vagando por um imenso mundo de tristezas e desilusões: um mundo formado por sonhos que se desfizeram pela desesperança do homem que os compôs, onde este mesmo homem se perderia em mares de loucura e solidão e andaria pela eternidade destruindo o que sobrou de sua vida e se culpando por não ter sido bom o suficiente para fazer o que se tinha que ser feito.

Peço-te, agora, somente que me perdoes por tudo o que te fiz, por ter sido tão rude e por ter tido tão maus modos contigo. Peço-te que me aceite de volta, não como teu chefe, mas como teu empregado: aquele que faz questão da tua presença sempre no mesmo lugar, no comando do carro, me conduzindo sempre rumo ao certo e da melhor maneira; no comando do meu coração, me conduzindo pelos caminhos da alegria ao amor que há muito nos foi reservado.

Tu sabes que não costumo fazer esse tipo de coisa, mas tu és diferente. Eu preciso da tua presença sempre em minha vida, e sonho em passar o resto dos meus dias ao teu lado. Isso tudo não é nada mais que o grito de um desesperado consciente da sua fragilidade perante o mundo e da sua necessidade de alguém para guiá-lo.

Se servir para que voltes, te prometo que nunca mais agirei da forma como venho agindo nos últimos tempos. Eu sei que andei meio frio e não te apoiei no que precisastes, nem fiquei feliz com tuas conquistas tão grandiosas. O que mais se comenta é que tudo isso se criou por pura inveja da minha parte, mas isso é tudo uma grande mentira. Tu sabes que eu sempre te coloquei alguns degraus acima de mim, sempre te achei superior e inclusive te considero uma grande professora. Eu só estava passando por momentos difíceis e fui fraco o suficiente para ter tido medo ou vergonha de falar.

Desculpa por tudo. Espero que durante a leitura se lembre dos nossos bons momentos e se vale à pena esquecer tudo o que tivemos, somente em decorrência de tempos ruins pelos quais tivemos passado. E o que era pra ser uma carta com um pedido de readmissão acabou se tornando um “eu te amo”, só que eu não te amo entre aspas e tu sabes muito bem disso.

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