quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Artistas da vida

A maquiagem não servia, de todo, para esconder as marcas com que a idade os havia presenteado; antes servia para que apagasse seus medos, suas preocupações e angústias. No palco, faziam o contrário de todo ator: deixavam finalmente de representar, para ser, por fim, quem realmente eram.
Debaixo das luzes dos holofotes fica-se cego, ou enxerga-se mais do que se deveria enxergar. Os julgamentos são extintos, a platéia finge não existir. ‘Ó, glamour do palco, não nos deixe!’, Rogam os artistas apaixonados, veneradores de um deus de madeira e pregos, cortina e corda, luz e sombra; um deus que permite àqueles que lho crêem a dor, o sofrimento e as mágoas; contudo, entrega-lhes de mãos estendidas, a cura para a doença, o perdão pelo crime e pelo pecado; deus que dá amor em vez de castigo, que é amigo em vez de inimigo, deus que não é pai, é irmão, esposa e marido.
Porém, o show tem hora para acabar, e os artistas fatigam-se; faltam-lhes as vozes e tremem-lhe as pernas. Uma pena, o martírio recomeçará; a rotina voltará a atacar e só lhes restarão os ensaios para que possam se libertar e parar de atuar.

Um comentário:

Vanessa Carneiro disse...

Ca-ram-ba-! Adorei o texto.